Mês: junho 2014

eu cheguei atrasado na estação da Sé, o último metrô já ia passar e você estava bravo, não havia ninguém, me encostei na parede e te puxei pela gola, contestei: só vou contigo se me beijar agora, como se fosse a última vez que fosse tocar meus lábios, caso ao contrário eu volto pro litoral e te deixo aí. e você me pegou pelas coxas e me beijou como se fosse o primeiro, talvez se a gente pudesse viver todo dia como primeiro dia tudo daria certo, mas nada seríamos que desconhecidos querendo se conhecer, quando tudo acabou eu tinha decorado a região exata da pinta que tinha na sua virilha, ainda lembro de beijá-la e você se arrepiar, e você, você se lembra? no metrô discutimos sobre alguns assuntos pertinentes, e foi na escadaria antes de entrar na sua casa que eu te rendi, era essa minha mania de querer sentar no seu colo e eu cabia numa perfeita simetria, suas pernas me sustentavam como se eu não pesasse nada, eu sabia o beijo certo pra te provocar, sabia onde tocar pra você cair em plena loucura e ficar entorpecido querendo acabar comigo, querendo me bater, morto, esfomeado de mim, lembro de gemer em ritmo certo aos seus movimentos, baixo, sua Mãe que nos esperava não podia ouvir, minha unha roída arranhava suas costas, e você me segurava firme, eu era seu, tão seu que eu já nem conseguia enxergar ali diferença entre nós, não existiam dois, era tão além de todo aquele tesão, de todo aquele físico que nada podia nos machucar ou nos fazer chorar de tristeza, eu sabia que era real quando te sentia inteiro, sem miséria ou reclusão, era você soado, com o cabelo bagunçado, urrando de vontade, me apertando com toda tua força, me olhando nos olhos, mesclando com mordidas fúnebres nos meus lábios, e eu entregue, me apoiando nas tuas coxas e as mãos nos seus cabelos, vez em quando descendo pelas costas pra te puxar ainda mais pro meu corpo pequeno, e o barulho de corpos que se penetravam, e quando você esporrava todo teu amor e prazer em mim não era quando desistíamos, aquele deslize na parede da escadaria, você me sentando gentilmente no degrau era a hora em que você me beijava doce, beijo de criança, teu gosto salgado de suor, teu fedor sujo que meu nariz suspirava ao sentir, pois com a gente era tudo assim, luzes de energia invisíveis aos comuns olhos humanos dessa terra, eu nadaria num mar do teu suor.